Os biólogos
afirmam que o animal não vive para si mesmo: só os genes “são imortais e
fornecem a continuidade primordial de geração a geração. Portanto, cada
indivíduo é apenas um portador de genes, programado para pôr outros em
circulação” (J.Sparks. La vie amourese et erotique des animaux).
Se a vida é um
processo pelo qual os genes garantem sua representação ao longo das gerações e, uma vez que a “moral biológica” afirma que
os corpos só servem para propagar os genes, os indivíduos deixam de ter
qualquer importância: os genes são os verdadeiros atores da evolução. Depois da
fecundação, o ser portador de genes pode desaparecer; transmitiu o “germe” que
seu corpo veiculava. Enquanto “genitor” não é mais necessário, sua tarefa está
cumprida.
Conhecemos o
triste destino do macho do louva-a-deus devorado por aquela a quem acaba de
fecundar; a fêmea mal se deixou cobrir e já se regala com o festim. Em certas
espécies são os machos que se destroem a si mesmos após a cópula com a fêmea
fatal.
Nas espécies
sociais primitivas, o macho dominante intervém com freqüência para
manter ou estabelecer a paz no grupo. É ele quem impede que as brincadeiras dos
jovens degenerem em lutas agressivas perigosas. Pode-se reconhecer aqui um
papel paterno, um papel patriarcal, cuja situação determina em relação aos
filhotes das fêmeas. No entanto essa disposição paterna só ocorre se o macho
tiver acesso a seu filho.
No processo
evolutivo da espécie pode-se dar continuidade a essa observação entre os
humanos, pois, “é pela via materna, através do discurso da mãe, que o Pai entra
como terceiro na relação dual mãe/filho”. Aqui, sem dúvida ele passa de genitor a Pai, como portador de uma
função: a de terceiro, aquele que estabelece um limite na relação fechada,
daquela mãe com o seu filho.
Reconhecido como
tal, o Pai inicia então o processo cultural ao
qual seu filho será inserido, instaurando um espaço-limite entre aquela
mãe e o seu filho, sendo reconhecido como o instaurador da Lei, o que
possibilita àquela criança, nascer à ordem simbólica.
De genitor,
portanto, o pai humano passa a ser Pai.